A Moda é um ritual. Um ritual especialmente quando chega às lojas, quando vamos as compras conscientes de que vamos gastar – em muitas vezes se for preciso – para nos vestir de personagens diferentes em busca de novos “eus” guardados em nós; um ritual também quando, em casa, coordenamos as peças que queremos vestir num esforço para sermos adequadas e criativas. Um ritual social quando saímos de nossas casas com a nossa identidade de moda – previamente estabelecida em casa – à rua. A moda é a arte que trazemos conosco todos os dias.
Mas existem outros rituais na moda, embora distante de nós, não vivemos diretamente junto deles e a moda não existe sem eles, é o ritual nos ateliers dos designers onde mãos experientes provam, e também aprovam, as cores, as texturas, o brilho e a fonte criativa e glamourosa que a moda dissemina nas revistas a que precede,antes de tudo um outro ritual: o dos desfiles.
Quando Tom Ford se recolheu no palco da ribalta, comoveu a platéia no desfecho da apresentação da Gucci para o outono/inverno 2003-04. Choveram pétalas de rosas que cobriram o chão por onde as modelos passavam num ritual de elegância – Tom Ford na ocasião comentou: “Quero que as pessoas chorem por beleza”. E, neste passo de retirada, resumia o ritual dos desfiles; os desfiles celebram a poesia das coisas belas.
Impossível falar de ritual e moda e não citar Paris a cidade do amor, a cidade luz e sem sombra de dúvida a capital da moda, esta sim a verdadeira capital da moda do mundo. Dona de um refinamento imbatível. Milão desistiu logo de concorrer com esta tradição e criou sua própria aura de magia com um forte apelo comercial. Mas com Paris é diferente, não vamos até lá para consumir moda, mas também para conhecer e saber o que será usado nas próximas estações, vamos a Paris porque lá é um verdadeiro observatório do que será moda amanhã, muito mais do que imprimir um ritual de compras Paris nos leva a observar e elevar nossos sentidos. Paris de Chanel, de Yves Saint Laurent. Paris como ritual, sempre!
Milão é outra coisa. É a história da hiperfeminilidade, é o brilho e o glamour de Cavalli, Versace ou Dolcce Gabbana a praticidade de Prada ou as estampas de Emilio Pucci. Enquanto Paris toca os violinos Milão diverte-se noite adentro. Mas o que vemos na moda em Milão é roupa que se vende porque se alinha no princípio de que foram feitas para pessoas e não apenas para delírio dos designers. Nova York é outro tipo de glamour onde há a maior concentração de celebridades por metro quadrado. Nova Iorque é um luxo, mas o seu requinte dispensa os floreados europeus. Londres é a capital da moda que mescla influências do mundo inteiro com nomes de peso na moda embora eles tenham grande necessidade de se apresentarem em paris – Vivienne Westwood, Stella McCartney. E outras capitais? Será que o ritual da moda passa por tão poucos lugares? E o Brasil? Será que a nossa moda não influencia toda uma geração de jovens designers, produtores de mega desfiles e cenografistas? Claro que sim, mas estamos buscando ainda o nosso ritual. O ritual de passagem de uma estação a outra, na verdade o ritual de beleza que a moda traz e que desejamos que contagie todo o mundo ainda que o espetáculo dure somente alguns minutos. Esperamos sempre pelo sonho dos rituais das próximas temporadas de moda.