O
desabamento de um prédio de três andares onde funcionava uma fábrica de tecidos
em Bangladesh revelou não só o amplo descumprimento com normas básicas de
segurança no país, mas também o lado obscuro da indústria de roupas
internacional.
É importante saber com quem estamos concorrendo para saber que esforços teremos de fazer para vencer a luta contra a alta carga de impostos em nossa indústria têxtil.
Varejista britânica Primark
encomendava roupas de fábrica que desabou
Na
tragédia, que ocorreu na capital Dhaka na semana passada, morreram pelo menos 500
pessoas.
Confira,
abaixo, o relato do correspondente da BBC no Sudeste da Ásia, Andrew North, que
visitou o local da tragédia.
"É
no norte da capital Dhaka que se concentra a maior parte das fábricas de roupas
do país.
Muitas
delas fabricam peças para marcas internacionalmente conhecidas.
Das
casas de um quarto e dos casebres onde os operários vivem, podem-se ver blocos
de concreto de múltiplos andares atravessando os céus da região.
Nos
telhados, vigas de aço reforçado estão aparentes, na esperança de que outro
piso repleto de máquinas de costura seja erguido.
Trata-se
de um sinal, para os críticos, de que o "boom de roupas" ultrapassou os limites, na tentativa
desesperadora de alimentar o apetite do Ocidente por vestimentas mais baratas.
O
Rana Plaza, que desabou na semana passada, era mais uma entre as dezenas de
fábricas locais, com a cadeia de lojas britânica Primark como um de seus principais clientes.
Em
sua defesa, a Primark informou que estava "chocada e entristecida"
pelo desastre e que exigiria de seus outros fabricantes uma revisão dos padrões
de segurança no trabalho.
Mas
esta é apenas uma pequena amostra de um cenário conhecido há bastante tempo na
região.
Indústria têxtil em Bangladesh (Fahad Faisal / Creative Commons)
Há
menos de seis meses, no mesmo local, um incêndio reduziu a cinzas uma fábrica
que fazia roupas para a cadeia americana de supermercados Walmart, matando 100
trabalhadores, até então o maior acidente industrial já ocorrido em Bangladesh.
A
placa com a frase "Proibido trabalho infantil" adorna a entrada de
muitas fábricas, assegurando o cumprimento de uma lei nacional que impede o
trabalho de menores de 18 anos na indústria de roupas. Mas
ainda não está claro se os fiscais das grifes internacionais também vêm
procurando "falhas estruturais" nos edifícios onde muitas dessas
fábricas estão localizadas.
Segredo?
Inúmeras
dessas operações ocorrem à margem do poder governamental e não cumprem com os
requisitos mínimos de segurança, como proteção contra incêndio. Além
disso, menores de idade trabalham nas linhas de confecção de roupas.
Uma
dessas fábricas "ilegais", diz ele, fazia roupas destinadas ao Reino
Unido nos últimos meses.
Não
é segredo que muitas das grandes fábricas da região sub-contratem plantas
menores, como essas, para puxar os custos para baixo e atender aos prazos dos
clientes.
Nesses
locais, a atividade pode ser apenas pregar botões ou costurar zíperes. Em
seguida, as roupas retornam à fábrica contratante e "legal", sem que
os compradores conheçam qualquer detalhe desse processo.
Quando
foi noticiado que a fábrica de Tazreen fazia roupas para o Walmart, a varejista
americana disse que não tinha conhecimento dessas práticas.
A
mesma estratégia de defesa é usada por outras fábricas localizadas no norte de
Dhaka.
O
governo de Bangladesh, por outro lado, alega que quer melhorar as condições de
trabalho, mas diz que se preocupa com as consequências para as milhões de
pessoas que dependem da indústria para garantir sua sobrevivência.
Como
um integrante de um sindicato de Bangladesh disse à BBC: "Quando você
compra algo e leva outro de graça – não é exatamente de graça"".
Fonte: BBC - Andrew North - Correspondente da BBC
no Sudeste da Ásia