por C.A.Macchia
1982 foi um ano emblemático para o cinema mundial. Em um rápido lampejo de memória podemos montar uma das melhores filmotecas de todos os tempos apenas com algumas das pérolas deste ano distante e próximo. Vamos lá:
1982 foi um ano emblemático para o cinema mundial. Em um rápido lampejo de memória podemos montar uma das melhores filmotecas de todos os tempos apenas com algumas das pérolas deste ano distante e próximo. Vamos lá:
ET, Gandhi, Tootsie, The Wall, Tron, Victor
ou Vitória, Poltergeist, Sonhos Eróticos de Uma noite de Verão, Conan, A marca
da Pantera (Cat People), A Noite de São
Lourenço, O Veredito, Rambo, O Enigma do Outro Mundo (The Thing), O Ano que
Vivemos em Perigo, ufa, só aí o leitor pode passar anos desfrutando em suas
memórias de clássicos que superaram qualquer linha de espaço-tempo.
Pode-se ainda reclamar da Academia de
Hollywood que consagrou Gandhi em detrimento de ET ou que Dustin Hoffman foi prejudicado, apesar
de sua magistral interpretação em Totsie, mas ninguém discorde que Bem Kingsley
foi o Gandhi definitivo.
Muitos voaram e emocionaram-se nas bicicross
em ET, ou riram com Victor ou Vitória. Alguns quiseram ser Conan ou Rambo.
Assustaram-se com o genial Enigma do Outro
Mundo (The Thing), um filme de terror inteligente como poucos ou Poltergeigeist que inovou a forma de
causar medo.
Bem só por aí chega.
Mas o ano de 1982 seria mais por um filme que
é definitivo: Blade Runner. Nada nos preparou para este filme.
Cena do filme Blade Runner
As duas grandes referências de filmes de
ficção científica eram 2001, Uma Odisséia no Espaço e o épico Guerra nas
Estrelas. Mas Blade Runner veio para mudar as coisas.
Em uma Los Angeles de 2019, sem sol, com um
caleidoscópio de viventes, do punk ao hare krishna, que desfilavam por uma
Chinatown psicodélica e ruas escuras, ambientes escuros, futuro escuro.
As emoções estão impregnadas de uma angústia
que se reflete em cada acorde da magistral trilha de Vangelis.
Os diálogos são cortantes, como se extraídos
de um livro de Daschiell Hammet. Porém na tela o drama é existencialista. Quem somos, de onde viemos, para que estamos
aqui?
E aí, bah, desfilam os personagens centrais
em uma trama de ódio e amor nunca vistos em um filme de ficção científica.
Some-se ao rompimento total com os designers
estabelecidos para os cenários e figurinos.
Nada ali busca uma tendência futurista. O que impera é um choque constante de estilo.
O copo de whisky é quadrado não porque está
no futuro, mas porque reflete um objeto prático para se depositar o maior
volume de bebida possível.
O sobretudo não está ali para dar estilo ao
personagem, mas para de fato protegê-lo de uma chuva constante.
O uso do couro não é para criar uma gang, mas
faz parte de uniformes espaciais. Comer comida chinesa no balcão é um ato
normal. Ninguém
pensava no computador pessoal naquele ano de 1982, mas em 2019 ele era uma
simples ferramenta de trabalho, nada mais.
A cena de amor ao som de Love Teme é carnal,
violenta, passional como um drama mexicano, sem perder a beleza, ou cair no
ridículo. Não, o beijo é roubado, seduzido, apaixonado. O vilão traz ternura no olhar. Quer apenas viver. A luz briga para tentar iluminar ambientes
que não buscam um estilo, mas ao contrário são livres de estilo.
A delegacia é suja como um banheiro público,
a sala do cientista é barroca, com leves toques da arquitetura grega em colunas
que fazem um pé direito quase infinito.
Neste filme você verá o quanto o figurino
liberta-se do padrão yuppie que dominava o início dos anos oitenta.
Quando a moda começou a sair de moda e o estilo pessoal ganhou força - Blade Runner
Não existe um padrão de estilo, mas ao mesmo
tempo ali está a harmonia do vestir. Harmonia que hoje se conquistou, quase
chegando ao 2019 de Blade Runner. Ali o visionário do figurino soube traduzir o
dia em que moda seria pessoal e intransferível.
Sem perder a elegância.
Aliás, é um dos filmes mais elegantes de
todos os tempos.